ARMADILHA MORTAL
ARMADILHA MORTAL

 

 Cover_front_medium

 

A abertura política brasileira foi um processo de desestabilização da estrutura do Regime Militar à época predominante no País.

Iniciou-se em 1974  e terminou em 1985 , ano em que a ditadura militar foi extinta.

 

O País passava por uma crise econômica que se agravava a cada dia. O elevado preço do petróleo e as altas taxas de juros internacionais desequilibravam o balanço brasileiro de pagamentos e estimulava a inflação, no entanto, apesar de todos esses problemas econômicos e também sociais o governo não cessou o ciclo de expansão econômica iniciado nos anos 70 aumentando o desemprego.

 

Segundo analistas econômicos, o crescimento da dívida externa, mais a alta dos juros internacionais, associadas à alta dos preços do petróleo, somaram-se e desequilibraram o balanço de pagamentos brasileiro. Consequentemente houve o aumento da inflação e da dívida interna.

 

Com estes fatores, o crescimento econômico que era baseado no endividamento externo, começou a ficar cada vez mais caro para a Nação brasileira. Apesar dos sinais de crise, o ciclo de expansão econômica iniciado em meados de 1970 não foi interrompido. Os incentivos à projetos e programas oficiais permaneceram, as grandes obras continuaram alimentadas pelo crescimento do endividamento.

 

Com a crise econômica veio a crise política, nas fábricas, comércio e repartições públicas o povo começou um lento e gradual descontentamento. Iniciou-se uma crise silenciosa onde todos reclamavam do governo (em voz baixa) e de suas atitudes. Apesar da censura e das manipulações executadas pela máquina estatal numa tentativa de manter o moral da população, a onda de descontentamento crescia inclusive dentro dos quadros das próprias Forças Federais, pois os militares de baixo escalão sentiam na mesa de suas casas a alta da inflação.

 

Vendo que não havia mais saída sem crise, os militares liderados , resolveram iniciar uma abertura política institucional “lenta, gradual e segura”, segundo suas próprias palavras.

 

Em 1974, os militares permitiram a propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que era o partido de oposição, acabou ganhando as eleições. A “linha dura” (Militares e civis contrários à redemocratização) iniciaram um processo de aperto violento contra a oposição ao regime militar. Casos de tortura, espancamentos, assassinatos e esquadrões da morte aumentaram exponencialmente.

 

 

O Pacote de Abril foi baixado pelo presidente da república em um movimento aparentemente contraditório com a abertura política defendida por ele.

 

Em função da pressão internacional e do crescimento da oposição da maioria da população brasileira, os militares não viam outra saída senão terminar com a censura prévia a publicações e espetáculos. Os Atos Institucionais que forçaram a imposição militar sobre a Nação foram revogados. A oposição começava a ganhar força nas eleições, acelerando a abertura política.

 

Entre os maiores adversários políticos que o governo percebia como sendo perigosos, de esquerda e/ou comunistas estavam os sindicatos. O governo usou a lei trabalhista para eliminar a oposição sindical, interveio em sindicatos e afastou seus líderes. O governo passou a definir a política salarial, reorganizando o Conselho Nacional de Política Salarial . Foram criadas  regras complexas para o cálculo do aumento de salários: reajuste a cada doze meses; aplicação do reajuste com base na média salarial dos últimos dois anos e na produtividade dos últimos doze meses; e, ainda, com base no reajuste da inflação residual do ano seguinte previsto pelo governo. Em pouco mais de um ano, o governo impôs intervenção federal em cerca de quinhentos sindicatos: as diretorias foram destituídas e interventores nomeados pelo governo. Os dirigentes sindicais deveriam ter seus nomes aprovados pelo Ministério do Trabalho.

 

A política de arrocho salarial, além de diminuir o salário real dos trabalhadores, acabou promovendo uma concentração de rendimentos, considerada uma das "mais escandalosas" em todo o mundo. Em todos os anos do governo a renda real (descontada a inflação) média dos trabalhadores caiu. Na luta contra o governo, dezenas de líderes sindicais foram presos, outros optaram pelo exílio.

 

            Apesar da força das medidas de repressão, a oposição continuava crescendo. As greves do ABC Paulista aprofundaram a crise do governo. Os trabalhadores exigiam reposição salarial com base nos índices de inflação de 1973. De acordo com o Banco Mundial, os índices foram manipulados pelo governo : o Ministro da Fazenda determinava que a inflação não fosse superior a 15%, mas o Banco Mundial estimara inflação próxima a 25% .

 

O caminho estava aberto para a abertura política.

 

 

 

 

 

 

 

 

Após a fuga de Alto Carijó, Guilherme e Vera Lúcia sem muitas opções de esconderijo, resolveram ir para Monte do Carmo, onde poderiam passar despercebidos e quem sabe tentar se estabelecerem por lá.

 

 

 

Monte do Carmo ainda se recuperava da tragédia que abalou a cidade no ano passado, voltando à normalidade com mais força e vigor. Crescera muito nos últimos meses, como uma árvore que sofre uma poda e volta mais viçosa.

 

Resolveram passar um tempo com Abelardo, pai de Vera Lúcia, até conseguirem se estabelecer.

 

 

 

Alugaram uma casa nos arredores e viviam uma vida normal, sem que alguém ou alguma coisa atrapalhasse a tranquilidade do casal.

 

 

 

O dinheiro conseguido nos assaltos a bancos estava por terminar. Como Guilherme não era dado ao trabalho e nem suportaria uma vida normal, começaram a planejar uma maneira de ganhar dinheiro.

 

 

 

Desde a fuga de Alto Carijó nunca mais tiveram contato com a guerrilha e nem com os parentes de Guilherme e Vera Lúcia.

 

 

 

Abelardo, sem desconfiar de nada, sempre ajudava o casal no que podia. Só não entendia como podiam viver sem trabalhar. As explicações de Vera Lúcia não o convenceram totalmente, pois esta dizia que tinha ganho um bom dinheiro em Alto Carijó com a exploração do Bar e Restaurante.

 

 

 

Jasper de vez em quando mandava lacônicas notícias e Olintho também não dava muitas explicações.

 

 

 

Para quem não acompanha as aventuras de Jasper "Guerrero", cabe aqui uma explicação.

 

 

 

Jasper, agente do Departamento Nacional de Investigação (DNI), era filho de Abelardo e irmão de Vera Lúcia. Abelardo era irmão de Olintho, morador de Alto Carijó.

 

 

 

Vera Lúcia ligara-se a Guilherme, gurrilheiro pertencente à CLN, organização guerrilheira que visava a derrubada do governo, tendo se tornado uma guerrilheira também.

 

Com o desmantelamento da guerrilha, os dois fugiram indo parar em Monte do Carmo.

 

 

 

Agora planejavam uma maneira de ganhar dinheiro, fazendo o que eles sabiam de melhor,que era assaltar, sequestrar e até matar se preciso fosse.

 

 

 

Guilherme começou a expor seu plano que já vinha batutanto a muito tempo. Vera Lúcia ouvia calada, vez por outra dando opiniões e modificando alguns detalhes do plano.

 

 

 

Quando acharam que tudo estava conforme, escolheram a data para por o audacioso projeto em execução. Decidiram que seria em outubro, na cidade do Rio de Janeiro, onde não eram conhecidos.

 

 

 

 

 

 

 

                     (...)

 

 

 

 

 

 

 

No aeroporto do Galeão, Jasper aguardava tranquilamente na sala de espera o carro do DNI que o levaria ao local do encontro. Levantou-se da poltrona onde estava sentado e dispôs-se a caminhar até o bar, que ficava numa sala contíguaa, separada por uma porta envidraçada, para um rápido "drink" enquanto aguardava a chegado do seu contao. Quando abria a porta, um homem veio vido em sentido contrário. Postou-se em frente dele,com um sorriso:

 

 

 

―Jasper "Guerrero"?―indagou ele.

 

 

 

Jasper estudou-o de alto a baixo, para depois confirmar com um movimento de cabeça. O homem, apesar do calor, vestia uma jaqueta com a gola levantada, um boné afundado na cabeça e óculos escuros, grandes demais para o formato do seu rosto.

 

 

 

―Tenho de lhe falar―continuou o homem.

 

 

 

―Não disponho de tempo―replicou Jasper―estou esperando alguém que já deve estar chegando.

 

 

 

―Serei breve.―disse o homem.

 

 

 

―Pois vá dizendo!―deu um passo em direção ao bar.

 

 

 

―Aqui não. Tenho um carro à porta―retrucou ele, sem deixar de sorrir, e assinalando a saída.

 

 

 

A testa de Jasper se enrugou:

 

―Quem é você? perguntou.―E de que quer falar?

 

 

 

―Confidencial―o sorriso dele alargou-se um tanto mais.

 

 

 

Jasper retrucou, impaciente:

 

 

 

―Não irei a lugar nenhum se não disser do que se trata e não se identificar, meu caro senhor.

 

 

 

―Nesse caso, sou forçado a revelar-lhe: basta lhe dizer que o assunto diz respeito a uma carta recebida assinada por Pablo Rodriguez.

 

 

 

―Jasper hesitou, ainda. Era um tipo alto e forte, com modos bruscos, mas de sorriso cordial. Enfim, resolveu-se:

 

 

 

―Muito bem. Vamos―disse dando de mão na sua maleta preta estilo 007 com as iniciais JG gravado em dourado

 

.

 

Dirigiram-se à saída. Lá fora,o homem abriu a porta de um carro,convidando-o a entrar e acompanhando-o.

 

 

 

Logo que se sentou, Jasper olhou para a frente: no banco dianteiro, uma moça com um boné cobrindo parte do seu rosto e uma longa cabeleira a lhe cobrir o restante da face. Uns óculos escuros cobria o que restava do rosto.

 

 

 

―Então, deu tudo certo?―perguntou ela.

 

 

 

―Cale a boca e dirija!―grunhiu o outro, segurando o braço de Jasper.

 

 

 

O veículo arrancou, cantando pneus, enquanto Jasper voltava-se para o lado:

 

―Que significa isto?―perguntou, impaciente.

 

 

 

―Quietinho aí, rapaz, se não quiser perder os dentes!―foi a resposta do outro.

 

 

 

Que fazer? O carro afastava-se, atingindo já as primeiras casas além do aeroporto. E aqueles dois não lhe reservavam nada de bom.

 

 

 

Jasper se maldizia por ter caído, tão ingenuamente, no golpe. Mas precisava agir depressa, pois, se esperasse, não poderia receber ajuda de ninguém. Ali, pelo menos, havia muitas pessoas, e policiais a poucos passos.

 

 

 

De repente soltou o braço que o homem do lado segurava. Enquanto empurrava a cabeça da motorista contra o volante, sua mão esquerda movia a alvanca da porta. Esta se abriu; o automóvel, num ziguezague repentino, ajudou-o a saltar.

 

 

 

No mesmo instante em que rolava no asfalto, o carro estacionava e o homem e a mulher, surpresos, apareciam de ambos os lados, a poucos passos dele.

 

 

 

Jasper conseguiu deter o próprio movimento, batendo contra um dos carros ali estacionados. Viu uma pistola, o cano alongado por silenciador, na mão do atacante. Do outro lado, a mulher tentava cortar-lhe uma possível fuga. Imediatamente, apoiando as mãos no solo,impulsionou o corpo e protegeu-se atrás do veículo que o detivera. Dali passou rapidamente para outro veículo estacionado logo atrás daquele. Uma bala, naquele instante, riscou o capô do automóvel com um zunido metálico. Pálido e espantado, ergueu-se e começou a correr até o carro policial, estacionado mais adiante, de onde surgiram dois homens fardados.

 

 

 

Não dera quatro passos, quando tropeçou, caindo, e, ao voltar-se, deu com a arma inimiga a poucos centímetros de seu rosto. Colou-se ao meio-fio, entre a calçada e o automóvel a tempo de ouvir um estampido ferindo seus ouvidos. Fechou os olhos e rezou.

 

 

 

 

 https://clubedeautores.com.br/book/149884--ARMADILHA_MORTAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese




ONLINE
1


Partilhe esta Página

ESCREVO O QUE PENSO

E SÓ PENSO EM VOCÊ!




Total de visitas: 33234