A PRAÇA DO RELÓGIO
A PRAÇA DO RELÓGIO

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Toda cidadezinha do interior tem uma praça. As pessoas que por elas circulam olham nos olhos, cumprimentam. Quem chega de fora é imediatamente notado,todo mundo conhece todo mundo, e quem é de fora se sobressai logo. Velhos ou jovens, as pessoas se cumprimentam; basta fazer o mesmo percurso, sentar num banco ou caminhar alguns passos, e logo nasce um cumprimento complacente. E é assim que as pessoas se comportam nas pracinhas do interior.

            As praças, em seus jardins floridos têm alguma coisa de enigmático. A magia se transforma e o mistério assume formas diferentes dentro de cada ser vivente.

Vizinhos compartilham suas conversas em bancos estrategicamente colocados ao longo do círculo calçado ou simplesmente coberto de areião.

 A barraquinha de inutilidades da dona Alicia; a banca de jornal  do Adamastor, o carrinho de água de côco de Dona Albertina. Mangueiras e flamboyants a perder de vista e, claro, a sexta-feira da praça!

            Sim, a sexta-feira da praça é um acontecimento que envolve não somente os frequentadores assíduos da cidade do interior, mas inclue também aqueles que vem das redondezas. Marechal, Santa Isabel, Biriricas, e afins. As barraquinhas de churrasquinho ficam apinhadas. Os bancos  não dão conta de tanta gente que vem à praça durante o dia e à noite. Pessoas diversas confraternizam suas angústias e frustrações, desejos e paixões, amores e dissabores, anseios e devaneios. De vez em quando, aqui e acolá, rola um reggae, um sertanejo ou uma música brega.

            Um dos frequentadores da praça é o Rouxinol: corpo delgado, cabelos esticados de índio, pele negra, sorriso largo. Parece estar sempre feliz. Tem esse apelido não porque goste de cantar ou algo semelhante, mas pelo costume que tem de viver assoviando. De tanto ouvir chamarem-no de rouxinol incorporou o nome devido ao gosto pela sonoridade da palavra e nunca mais largou. Nunca  se descobriu o seu nome. Alguns dizem que é Artur.

            E o coreto? Ah sim toda praça tem um coreto. Palco de manifestações culturais ou simplesmente local abrigado para se jogar um carteado ou dominó.

            Um elemento essencial nessa paisagem interiorana é a Igreja. Toda praça tem uma igreja e toda igreja tem um relógio. E o relógio gira para um lado e as pessoas giram para o outro. As crianças brincam e o relógio gira. Os velhos conversam e o relógio gira. A vida passa e o relógio continua girando.

            A noite cai, os mais idosos se recolhem, os jovens enamorados continuam. O carrinho do côco já se retirou. O pipoqueiro faz a última fornada de pipoca doce e salgada. A cidade em breve estará adormecida e o relógio continuará girando.

 

                                                                                                                                 Danilo Soares Marques

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